O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende é coma vida e com os humildes.
Cora Coralina

domingo, 23 de março de 2014

Leitura Compartilhada



TESTEMUNHA TRANQUILA
 Stanislaw Ponte Preta
O camarada chegou assim com ar suspeito, olhou pros lados e — como não parecia ter ninguém por perto — forçou a porta do apartamento e entrou. Eu estava parado olhando, para ver no que ia dar aquilo. Na verdade eu estava vendo nitidamente toda a cena e senti que o camarada era um mau caráter.
E foi batata. Entrou no apartamento e olhou em volta. Penumbra total. Caminhou até o telefone e desligou com cuidado, na certa para que o aparelho não tocasse enquanto ele estivesse ali. Isto — pensei — é porque ele não quer que ninguém note a sua presença: logo, só pode ser um ladrão, ou coisa assim.
Mas não era. Se fosse ladrão estaria revistando as gavetas, mexendo em tudo, procurando coisas para levar. O cara — ao contrário — parecia morar perfeitamente no ambiente, pois mesmo na penumbra se orientou muito bem e andou desembaraçado até uma poltrona, onde sentou e ficou quieto:
Pior que ladrão. Esse cara deve ser um assassino e está esperando alguém chegar para matar — eu tornei a pensar e me lembro (inclusive) que cheguei a suspirar aliviado por não conhecer o homem e — portanto — ser difícil que ele estivesse esperando por mim. Pensamento bobo, de resto, pois eu não tinha nada a ver com aquilo.
De repente ele se retesou na cadeira. Passos no corredor. Os passos, ou melhor, a pessoa que dava os passos, parou em frente à porta do apartamento. O detalhe era visível pela réstia de luz, que vinha por baixo da porta.
Som de chave na fechadura e a porta se abriu lentamente e logo a silhueta de uma mulher se desenhou contra a luz. Bonita ou feia? — pensei eu. Pois era uma graça, meus caros. Quando ela acendeu a luz da sala é que eu pude ver. Era boa às pampas. Quando viu o cara na poltrona ainda tentou recuar, mas ele avançou e fechou a porta com um pontapé... e eu ali olhando.
Fechou a porta, caminhou em direção à bonitinha e pataco... tacou-lhe a primeira bolacha. Ela estremeceu nos alicerces e pimpa... tacou outra.
Os caros leitores perguntarão: — E você? Assistindo aquilo tudo sem tomar uma atitude?
— a pergunta é razoável. Eu tomei uma atitude, realmente.
Desliguei a televisão, a imagem dos dois desapareceu e eu fui dormir.

APRECIAÇÃO E RÉPLICA – A TESTEMUNHA TRANQUILA
                                                                                      Stanislaw Ponte Preta
O CAMARADA.....MAU CARATER.

PAUSA I

- Até agora, quem vocês acham que será a testemunha?
- Por que ela estaria tranquila?
- O que ela iria testemunhar?
- Onde está essa testemunha?
- Que pistas no texto te permitem fazer essa afirmação?

E FOI BATATA...FICOU QUIETO.

PAUSA 2

    - Como será que a testemunha consegue saber o que o possível ladrão esta fazendo dentro do apartamento?

“PIOR QUE LADRÃO... NADA A VER COM AQUILO.

PAUSA 3

- O que será que a testemunha vai presenciar?
- Você mudou de ideia a respeito?
- E sobre quem seria a testemunha, você mudou de ideia? Explique.

DE REPENTE... POR BAIXO DA PORTA.

PAUSA 4

- Como a testemunha consegue enxergar dentro e fora do apartamento ao mesmo tempo?
- Que situação esta para acontecer?
- O que presenciará a testemunha?
- Que pistas no texto te permitem afirmar isso?

SOM DE CHAVE... TACOU OUTRA.

PAUSA 5

- Algum crime estará prestes a acontecer?
- O que será?
- Por que você levantou essa hipótese?

DESLIGUEI A TELEVISÃO...E EU FUI DORMIR.

PAUSA 6

- As hipóteses levantadas por você correspondem ao apresentado no texto?
- Que pistas levaram você a essas hipóteses?
                                                                                    Texto trabalhada na Formação Ler e Escrever
Biografia
Sérgio Porto, por ele mesmo, "Auto-retrato do artista quando não tão jovem“ (agosto de 1963)
       "ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário.
       OUTRAS ATIVIDADES: Marido, pescador, colecionador de discos (só samba do bom e jazz tocado por negro, além de clássicos), ex-atleta, hoje cardíaco. Mania de limpar coisas tais como livros, discos, objetos de metal e cachimbos.
       PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES: Mulher.
       QUALIDADES PARADOXAIS: Boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.
       PONTOS VULNERÁVEIS: Completa incapacidade para se deixar arrebatar por política. Jamais teve opinião formada sobre qualquer figurão da vida pública, quer nacional, quer estrangeira.
       ÓDIOS INCONFESSOS: Puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.
        •       PANACÉIAS CASEIRAS: Quando dói do umbigo para baixo: Elixir Paregórico. Do umbigo para cima: aspirina.
        •       SUPERSTIÇÕES INVENCÍVEIS: Nenhuma, a não ser em véspera de decisão de Copa do Mundo. Nessas ocasiões comparativamente qualquer pai-de-santo é um simples cético.
        •       TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS: Passear na chuva, rir em horas impróprias, dizer ao ouvido de mulher besta que ela não tão boa quanto pensa.
        •       MEDOS ABSURDOS: Qualquer inseto taludinho (de barata pra cima).
        •       ORGULHO SECRETO: Faz ovo estrelado como Pelé faz gol. Aliás, é um bom                                                                     cozinheiro no setor mais difícil da culinária: o trivial.


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