Planejar viagens e planejar aulas: O que há em
comum?
Segundo Amyr Klink3,
famoso navegador brasileiro, conhecido em todo o mundo pelas suas viagens
solitárias “(...) existe uma diferença entre viagens e aventuras. Surfar nas
ondas do Drake4, atravessar o Atlântico ou subir o Solimões não eram
aventuras. Mesmo cair na serra da Quebra-Cangalha e passar dia no mato abrindo
caminho com canivete preto não teria sido uma aventura, porque eu tinha, antes
de mais nada, uma bússola e um lugar para ir. Um rumo e um destino fazem a
diferença em qualquer situação.”
Ao ler o trecho
mencionado podemos nos perguntar: o que uma viagem tem em comum com uma sala de
aula? Em que as diferenças entre os conceitos de viagem e de aventura
apresentados por Amyr Klink podem contribuir para refletirmos
sobre a organização do nosso trabalho na escola? Por que um navegante, apesar
de ter feito algumas viagens sozinho, dá em suas entrevistas o depoimento de
não ter se sentido solitário em suas viagens?
Talvez, uma das possibilidades
de resposta para essas questões esteja dentro desse mesmo trecho do livro Paratii,
pois o autor diz: “Um rumo e um destino fazem a diferença em qualquer
situação”.
Uma reflexão sobre a
diferença entre o conceito de viagem e o de aventura (circunstância
ou lance acidental, inesperado; peripécia, incidente) talvez possa nos
ensinar um pouco sobre o tempo pedagógico e o planejamento na escola.
Planejam-se viagens,
mudanças, rumos, construções. Planeja-se encontrar pessoas queridas, ter
filhos, conhecer novas pessoas. Os acontecimentos que vivenciamos no nosso
dia-a-dia, na maioria das vezes, mostram os resultados ou os efeitos dos
planejamentos e das escolhas que fizemos. Na escola não é diferente: para
colocarmos em prática nossas escolhas, utilizamos instrumentos. Navegadores
como Amyr Klink utilizam a bússola (“eu tinha, antes de mais nada, uma
bússola”) para garantir o rumo de suas viagens e os objetivos que se quer
atingir (“e um lugar para ir”). O planejamento, ao reunir uma série de
procedimentos que pretendemos desenvolver com nossos alunos, dá uma direção ao
nosso trabalho.
No entanto, ao
refletirmos sobre nosso trabalho no dia-a-dia na escola, constatamos, algumas
vezes, que ele tem se aproximado mais de uma aventura cheia de espontaneidade, como
já citamos anteriormente, do que de uma viagem, que é planejada com cuidado e
em que se considera a importância de cada detalhe.
São tantas as
solicitações com as quais nos deparamos em nosso cotidiano: das famílias, das
campanhas e dos projetos sociais com informações sobre saúde, alimentação,
higiene, trânsito, violência e comportamento, que parece não sobrar tempo para
trabalhos como os de leitura eescrita. Todos os temas trazidos para a escola
são importantes, mas eles já têm espaço em outras instituições sociais. Já o
trabalho com a sistematização do conhecimento sobre a leitura e a escrita cabe
à escola. Cabe a nós, professores e professoras, o trabalho em favor do domínio
da leitura e da escrita pelos alunos.
O planejamento - a programação das atividades,
a distribuição do tempo de modo a controlar o trabalho - é certamente uma das
possibilidades de estabelecer uma rotina que contemple atividades de leitura e
de escrita.
O planejamento da rotina
é entendido como compromisso com a organização das atividades dentro do tempo
pedagógico. O planejamento passa a ser visto sob a ótica da escolha e do
controle do professor sobre seu próprio trabalho. Com isso, garantimos novas
escolhas, que geram a liberdade para mudanças, adequações e alterações necessárias.
Para isso, não devemos
ter medo nem nos livrar da responsabilidade de organizarmos cada atividade da
rotina, seja ela dentro ou fora da sala de aula. Nós, professores e
professoras, somos responsáveis pela articulação das várias atividades e áreas
do conhecimento que compõem o trabalho de ensinar.
O planejamento da rotina
é, portanto, uma tarefa que cabe a nós, professores e professoras.
Referência bibliográfica:
Pró-Letramento :
Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do
Ensino Fundamental :
alfabetização e linguagem . – ed. rev. e ampl. incluindo SAEB/Prova Brasil
matriz de referência/
Secretaria de Educação Básica – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica, 2008.
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