Ola pessoal!
Trabalhamos a história "A operação de Tio Onofre" de Tatiana BELINKY na formação do Ler e Escrever e achamos muito produtivo para trabalhar produção de texto com as crianças. Primeiro leia uma parte da história e só depois continue a história. Bom trabalho!!!
A
operação de Tio Onofre
Talita tinha a mania de dar nomes de
gente aos objetos da casa, e tinham de ser nomes que rimassem. Assim, por
exemplo, a mesa, para Talita, era Dona Teresa, a poltrona era Vó Gordona, o
armário era o Doutor Mário. A escada era Dona Ada, a escrivaninha era Tia
Sinhazinha, a lavadora era Prima Dora, e assim por diante.
Os pais de Talita achavam graça e
topavam a brincadeira. Então,
podiam-se ouvir conversas tipo como esta:
— Filhinha, quer trazer o jornal que
está em cima da Tia Sinhazinha!
— É pra já, papai. Espere sentado na Vó
Gordona, que eu vou num pé e volto noutro.
Ou então:
— Que amolação, Prima Dora está
entupida, não lava nada! Precisa chamar o mecânico.
— Ainda bem que tem roupa limpa dentro
do Doutor Mário, né mamãe?
E todos riam.
Mas uma tarde, Talita estava na sala
com a mamãe, assistindo televisão, quando tocou a campainha. Talita correu e
foi logo abrindo a porta, sem antes verificar quem era. E não é que eram dois
ladrões?! Os mal-encarados sujeitos empurraram Talita e foram entrando, de
armas apontadas:
— Isto é um assalto! Entregue o
dinheiro e as joias, madame, e nem um pio, está ouvindo?!
Talita agarrou-se à mamãe, as duas
mudas de susto.
— O cofre, rápida! — repetiu o ladrão,
bravo. — Abra o cofre, rápido!
— É pra já, madame. Mexa-se, se não
quer que aconteça nada com a menina — ameaçou o outro.
A mamãe — que remédio! — foi logo
tirando o quadro que escondia a porta do cofre embutido na parede, e começou a
mexer no segredo, nervosa, enquanto Talita olhava, apavorada.
Nisso, o telefone tocou. Uma, duas,
três vezes.
— Só faltava isto! — resmungou um dos
ladrões.
— Deve ser o papai — murmurou Talita, quase chorando. — Ele sempre telefona a tarde pra saber da
gente...
— Droga! — rosnou o outro. — Se ninguém responder, o homem vai
estranhar...
— Então atenda logo — gritou o outro. —
A senhora não, madame, cuide do cofre! — Você menina, atenda logo! E cuidado
com o que vai dizer! Não deixe perceber nada, senão...
— Alô! — obedeceu Talita, trêmula, enquanto o ladrão
tirava o fone da extensão no vestíbulo, para ouvir a conversa.
— Talita? – era a voz do papai. — Tudo
bem aí, filhota?
— Tu... tudo... be...bem...papai... —
gaguejou Talita. E o ladrão olhou feio para ela.
— Talita — disse o papai — , avise a
mamãe que eu vou chegar atrasado para o jantar... mais ou menos uma hora. Você
está me ouvindo, filha?
— Es... estou... sim... Vo... você...
vai che...chegar... atra... trasado...
— A sua voz está diferente, Talita.
Vocês estão bem mesmo?
O ladrão apontou a arma para a menina:
— Vê lá o que fala, e não gagueje! —
sussurrou ele, ameaçador.
Então Talita fez um esforço, firmou a
voz e respondeu:
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— Tudo bem, papai, eu
e mamãe estamos bem. Só que um pouco preocupadas com o Tio Onofre.
— Tio Onofre? —
estranhou o papai.
— Pois é, papai.
Telefonaram agora há pouco, dizendo que o Tio Onofre teve uma crise de
apendicite aguda e teve de ser operado de urgência. A esta hora já devem estar
abrindo a barriga dele...
— É mesmo? — disse o
papai, após pequena pausa. — Foi de repente, não é?
O ladrão, satisfeito
com a resposta da menina, fazia sinais para ela terminar a conversa:
— Acabe logo com este
papo furado! — sussurrou ele. E Talita apressou-se a obedecer:
— Eu falo pra mamãe
que você vai chegar atrasado para o jantar. Até LOGO, papai! — E Talita
desligou o telefone.
— Bem bom! — disse um
ladrão para o outro. — Agora temos tempo de sobra para fazer o serviço!
— Mesmo assim, quanto
mais depressa, melhor. Mexa-se, madame! Vai demorar muito pra abrir este cofre?
— rosnou o ladrão.
As mãos da mamãe
tremiam muito:
— O Senhor me deixa
nervosa, com esta arma apontada... assim eu não consigo acertar o segredo...
— Pois não esquente,
madame — falou o outro. — Não ouviu que o seu marido vai chegar muito atrasado?
Temos tempo que chegue.
E, voltando-se para
Talita, ordenou, apontando para a Vó Gordona:
— E você, menina,
senta aí na poltrona e fica bem quietinha, enquanto meu colega e eu revistamos
as gavetas da escrivaninha.
Os minutos passaram.
Na sala, só se ouviam as vozes estridentes do desenho animado na televisão,
abafando os outros ruídos.
E só Talita, porque
estava muita atenta, ouviu o estalinho leve duma chave na fechadura da porta,
enquanto a mamãe abria o cofre. E, bem no momento em que os ladrões se
precipitavam para ver o conteúdo, a porta da entrada se abriu de repente,
silenciosamente, e dois policiais irromperam na sala, apontado as armas nas
costas dos bandidos:
— Polícia! Larguem as
armas! Mãos ao alto!
Atrás dos policiais,
entrou correndo o pai de Talita, de braços abertos:
— Graças a Deus, vocês
estão bem! — E ele envolveu a mulher e a filha num só grande abraço.
As duas até choraram
de emoção e alívio.
E depois que acabou a
agitação e os dois policiais levaram os assaltantes presos, a mamãe perguntou
ao papai:
— Mas, querido, você
não disse que ia chegar atrasado? Como foi que adivinhou o que estava
acontecendo e chegou assim, em cima da hora?
O papai piscou um olho
para a Talita.
— E desde quando a
nossa filha tem um tio chamado Onofre? Onofre? Aqui em casa, só rima com cofre.
E se o cofre-Onofre estava sendo operado... se estavam “abrindo a barriga
dele”, bem...
E todos os três caíram
na gargalhada.
BELINKY,
Tatiana. A operação do Tio Onofre: uma história policial. São Paulo: Ática,
1990.
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